quinta-feira, 21 de maio de 2020

Alguns tentames

1. A ignorância assassina

Se Lula glamorizava a ignorância, Bolsonaro agora a enaltece como filosofia de vida. Elevou seu status e elencou sua prática como prioridade na política de seu governo. A ignorância está quase adquirindo um caráter institucional. Não seria surpresa se algum governista aloprado resolvesse estabelecer um ministério só para ela. Ministério da Ignorância; para facilitar a administração de sua prática à frente dos outros ministérios.

Vimos ao logo dos últimos anos a ignorância crescer e se expandir gradualmente no seio social, no âmbito das esferas públicas e privadas; se aglutinando na egolatria alheia e engolindo a tudo pelo seu caminho, a ética, a prudência, a moral republicana, o respeito às instituições democráticas e à própria democracia, o apreço aos valores humanistas, a inteligência crítica e outros valores mais. Como a entidade amorfa do filme A Bolha Assassina, de 1988, a ignorância se tornou um monstrengo disforme no topo das instituições brasileiras, agitando seus tentáculos proselitistas sobre sociedade, buscando aumentar sua esfera de atuação na fagocitose de outros organismos constitucionais.

A Ignorância Assassina; seria o título do filme baseado na política do atual governo, cujas medidas e ações parecem ter saído do mais pobre roteiro de filme trash disponível. Se bem que “A Bolha Assassina” também descreve com precisão a “bolsoesfera”; bolha social que a súcia bolsonarista alimenta nas redes sociais.


2. Os Lambotas

Os Lambotas são figuras da cultura brasileira, quase folclóricas. Sentem fetiche por autoridades fardadas, e gostam de lustrar bota de milico com a língua. Adoram se fantasiar de macho alfa, e de se imaginarem como protagonistas de um filme de ação brucutu. Fanfarrões, costumam bravatear contra minorias na pregação de moralismos autoritários, porém, diante da corrupção policial e de militares desonestos, se calam e se acovardam. Vivem de acordo com uma realidade imaginada, autoimposta, vendo a si mesmos como personagens de um grande videogame chamado vida.


3. Tostão furado brasileiro

Lula e Bolsonaro são duas faces de uma mesma moeda, com duas caretas e nenhuma coroa. Personificam dois arquétipos do ideário identitário do ser brasileiro; o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda, movido pelo coração e não pela razão, tanto nas amizades quanto inimizades, e que mistura o público com o privado em uma coisa só.

Politicamente falando, aos olhos públicos, Lula sempre figurou a efígie do malandrão simpático e boa-praça do povo brasileiro. Estereótipo do sujeito bem articulado, conciliador e bom negociador, que consegue as coisas com lábia e astúcia. Já Bolsonaro incorpora outro arquétipo, o do brasileiro turrão, mal-educado e mesquinho, que cisca pelo terreiro catando facilidades e oportunismos. Rancoroso e dado à insídia, fanfarrão e antipático. Ambos, egocêntricos e personalistas a sua maneira. Legítimos avatares da Lei de Gérson, na busca por querer levar vantagem em tudo.

Por isso que parcelas significativas da sociedade se identificam tanto com eles, porque a imagem deles simbolizam constructos sociais que reverberam aspectos comuns do etos brasileiro, presentes no imaginário popular.

Precisamos urgentemente identificar e valorizar outro arquétipo do que nós somos.

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