domingo, 4 de setembro de 2011

sketch... saúde!

  

Alguns sketches... Gosto de apreciar a beleza do povo feio de vez em quando. Já desenhar, não sinto mais tanto prazer quanto já senti anteriormente. Sei lá... não gosto de desenho por desenho, técnica pela técnica... O desenho, para mim, deve estar a serviço de alguma ideia, expressando algo que nos faça refletir; concordar ou discordar. Por isso gosto tanto do desenho de humor. Sinto prazer quando uma imagem, rica em mensagem, me toca e se soma ao meu repertório imagético.

Não acredito que esse modo de entender o desenho seja melhor do que qualquer outro, mas, particularmente, senti certo alívio quando entendi essa questão sobre mim, pois me cobrava (ainda cobro) demais por algo que não me sublimava tanto. Porém admiro, ou até mesmo inveje, os talentosos artistas que, quase compulsivamente, rabiscam, rabiscam, rabiscam... pelo puro prazer de rabiscar.  Eu devia fazer mais sketches e tentar reaprender a desenhar descompromissadamente. *
Mais importante do que o calibre da pistola é a habilidade do atirador. Era o que dizia Zeca Bronha quando tiravam sarro dele no vestiário. *
Não sei se é impressão minha, mas outra seqüela social decorrente do crack que eu noto, é que os moradores de rua, em geral, se tornaram mais arrogantes. *
Quando desenhei a historinha do post anterior para o aniversário da gibiteca de Santos, desconfiava que poderia ter o trabalho vetado, mas pensei que seria besteira. Passou-se o tempo; não estava nem um pouco preocupado com isso, quando por acaso soube por um funcionário da gibiteca que sim, o desenho havia sido desconsiderado por não estar, digamos, de acordo com o tom desejado pela prefeitura.

A reflexão, às vezes, incomoda.*

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Gibiteca para quem precisa

Aniversário da gibiteca de Santos, recentemente. Precisava fazer um desenho comemorativo para expor lá. Pensando no que desenhar, refleti sobre a gibiteca. Um elefante branco sentado na praia lendo um gibi?... Não... Não creio que a gibiteca seja algo demasiadamente dispendioso, muito menos algo inútil ou sem importância. Pelo contrário, do ponto de vista cultural, a gibiteca agrega valor à cidade de Santos por disponibilizar gratuitamente seu acervo; manifestações de uma forma de expressão artística, distinta e plena. No caso, as histórias em quadrinhos e afins, manifestações da chamada nona arte.

Volta e meia, iniciativas são tomadas na tentativa de chamar atenção e valorizar a gibiteca, tais como eventos, palestras, exposições e oficinas, mas a verdade é que o rei está nu. A comunidade santista parece não demonstrar interesse por aquele espaço, ou por não reconhecerem seu valor cultural, ou simplesmente, por desconhecerem, o que é mais provável, pois, quando confrontados com o discurso, a maioria das pessoas reconhece a importância da gibiteca, embora na prática, no dia-a-dia, não a freqüentem.

Será que por causa do nome, gi-bi-te-ca, soar como algo antiquado, infantil ou bobo, a torna passível de ser menosprezada? Talvez mudando o nome para algo tipo "comicsteca" ou sei lá... Como é “gibiteca” em inglês!?... Enfim, o que quero dizer é: como o povo adora um anglicismo, talvez pondo um nome mais style, lhes despertem algum interesse em freqüentá-la, ou talvez, como eu acredito, o calo seja mais duro e a questão reflita na própria noção de cultura e sua absorção. Qual é o significado de “cultura” numa sociedade cada vez mais ávida e passiva por entretenimento?

Ultimamente, os principais usuários da gibiteca que eu vejo são os moradores de rua, bodes expiatórios, inclusive, no discurso de muitos para justificar a baixa freqüência dos “cidadãos de bens” na mesma. De fato, é desagradável quando um morador de rua fedendo a cachaça está sentado ao seu lado, ou demonstra alguma inconstância comportamental, meio agressiva. Eu mesmo já vi mães incomodadas tirando seus filhos da gibiteca por causa de coisas assim... Acontece, apesar da preocupação dos funcionários de retirar os indivíduos nesse estado. Contudo, no geral, o que eu testemunho são pessoas desfavorecidas, que vivem na rua e que encontram algum tipo de refúgio na gibiteca. Bebem aguinha no bebedouro, curtem um ar condicionado e lêem quadrinhos. Lêem, se distraem, e experimentam da catarse que a nona arte proporciona. Que bom alguém saber aproveitar aquele espaço.