segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Jeitinho dejetinho

Meio de luto pela eleição de Tiririca. Desgostoso com a discussão política brasileira. Não estimula nossa inteligência. Relativizam a verdade pela conveniência do momento e atropelam com bravatas torpes a racionalidade dos discursos.

charge feita nas eleições de 2006. 


Lula, a mascote do Brasil, é o grande mestre dessa prática. É o sacrossanto padroeiro do Jeitinho Brasileiro. É o cara! O grande messias exportador desse típico produto genuinamente brasileiro! “Israel e Palestina estão em conflito!? Que é isso?! Vamos deixar as desavenças de lado e dançar um sambinha!”... Quebrou-se a cara, mas não o Cara!... “O TSE está me dando uma multa!? Eles sabem com quem estão se metendo?! Eu sou o grande presidente desta pocilga! Dou risada desse ato institucional!”... “Mensalão?! Eu não sabia, mas quem não faz!?”.

E como o povo reage a isso?! Ora, o povo se reconhece! Reconhece o “jeitinho” como parte da cultura de seu dia-a-dia. E Lula é do povo, então é normal que ele haja assim!... Aos companheiros, o que quiserem, aos outros, o que a lei permitir. Isso é o normal na cultura brasileira. Quem não daria um jeitinho pra ajudar ou favorecer um amigo, ou companheiro? Somos cordiais, como já explicou Sérgio Buarque de Holanda... As leis e as normas são meras imposições desagradáveis que o Estado nos inflige, então vamos todos passar por cima delas!... Vamos galera! Todos juntos burlando todas as leis, e de mãos dadas gritando: Viva o Brasil! Pentacampeão mundial de futebol!!
Também de 2006.

O jeitinho brasileiro está na raiz cultural da nação como uma forma criativa e legítima das camadas menos favorecidas da população de lidar com as leis impostas por uma elite dominante e coerciva. No entanto, A superestimação dessa cultura, segundo vejo, representa o grande mal do país hoje, justamente por supervalorizar a esperteza e a malandragem em detrimento da honestidade e do respeito às instituições. Honesto no Brasil é otário. A sociedade hoje nos estimula para a desonestidade. E para mim, a grande decepção que tive com o governo do PT foi de praticamente ver a institucionalização do jeitinho Brasileiro na esfera pública.

E com Serra seria diferente?... Não muito. A diferença é que o grupo que Serra representa reconhece melhor a importância da hipocrisia na vida social brasileira. Sabe que o lugar do jeitinho é na obscuridade dos bastidores e não sob os holofotes do palco principal. Em outras palavras, sabem esconder melhor a sujeira embaixo do tapete. Ainda mais por não terem uma imprensa empresarial panfletando freneticamente contra eles.

O que se vê na discussão política de hoje é a cordialidade inflamada que o já citado Sérgio Buarque se refere. Não a cordialidade no sentido de gentileza, mas sim, a derivada do termo em latim, cordis, coração, emoção. Emoção em prejuízo da razão é o que se vê nos palanques. A ignorância é tanta que daqui a pouco estarão dizendo por aí, que além de religião e futebol, política também não se discute.