sábado, 24 de outubro de 2009

Pragas de Pregagens

Não é de hoje que venho me atentando para a existência de algo que soa como uma espécie de censura politicamente correta, querendo se instalar no país, e de tempos em tempos, vemos na mídia exemplos de casos que levantam essa questão. Recentemente foi Danilo Gentili, uma das revelações do CQC quem quase parou na pira da inquisição do politicamente correto, acusado de heresia, digo, preconceito.

O preconceito existe no Brasil? Sim, existe. Qualquer pessoa com um mínimo de consciência social consegue perceber isso no dia-a-dia. Um tipo de poluição impregnando nosso meio ambiente. Pois, assim como existe a poluição ambiental, a poluição visual, a poluição sonora; existe também esse outro tipo de poluição que é a social, que se manifesta e se propaga através do preconceito, em particular, do preconceito racial. Uma praga social oriunda da putrefação dos valores coloniais e que persiste existindo em nossa sociedade contemporânea, se mostrando difícil de erradicar; apesar de todos os esforços e avanços conseguidos nessa direção.

Existe sim no Brasil um racismo envergonhado e dissimulado, que escorre murmurante da língua maldizente de alguns indivíduos idiossincrásicos. Logo, torna-se necessário que existam leis e até mesmo certo grau de ações afirmativas do estado, principalmente no “front” educativo, para coibir ações e pregações socialmente desagregantes e também, para tentar disseminar nas futuras gerações uma nova consciência social, mais evoluída e igualitária, compatível com as necessidades que a realidade do século XXI vem nos trazendo. Tais medidas são importantes para garantir que o racismo, se não exterminado, continue pelo menos assim, envergonhado de si por saber que a sociedade não o tolera.

No entanto, me incomoda enormemente a histeria e o frenesi com que, apressadamente, muitos paladinos da moral alheia julgam e condenam os “infiéis” da cartilha politicamente correta - Ele é racista! Disse algo que me ofendeu! Joga pedra! Enforca! Manda pra guilhotina! Queima! Processa! - Pois, uma coisa é você dizer que fulano proferiu algo racista, outra, é você afirmar que tal pessoa é racista por ter feito alguma observação ou colocação de caráter subjetivo, que pode ter sido preconceituoso, mas que também pode ter sido mal interpretado. Não se pode definir um artista julgando apenas uma obra.

O preconceito é fruto da ignorância, e não se acaba com a ignorância se valendo de atitudes ignorantes, da mesma forma que não se apaga uma fogueira atirando-lhe lenha. Se o objetivo real da sociedade é a igualdade, o correto, portanto, seria parar de frisar nossas diferenças e realçar, valorizando, o que todos nós, seres humanos, temos em comum, independente da cultura, etnia, credo, nação ou tom de pele, e que consiste, justamente, na vida. E é aí que o humor se torna algo valioso, ou dependendo da ótica, maldito.



O humor é um recurso que serve como válvula de escape para a pressão que, em geral, a vida exerce sobre nós, seres humanos nascidos e viventes. O humor se vale de vários artifícios, e ao longo da história da humanidade vem assumindo diferentes formas e particularidades no ato de se expressar, de acordo com a cultura e época. Hoje, podemos dizer que vivemos num mundo pluricultural, na chamada aldeia global, onde se abriga a mais variada gama de indivíduos, todos querendo seu espaço ao sol. Nesse cenário, o humor se ramifica e assume diversas formas na tentativa de agradar os diversos gostos. E é nessa pluralidade que algumas idéias se chocam, e muitas vezes, a ignorância se manifesta.

No caso de Danilo Gentili, eu compreendo que ele tenha lançado uma piada com um tipo de pensamento em mente, no entanto, a piada soou e deu margem a outro tipo de interpretação, e o que deveria ter se restringido apenas a questão de bom gosto ou mau gosto, seguiu-se dentro e fora da internet tomando uma proporção desmedida, por quererem execrar Danilo Gentili como racista. No entanto, vale citar que o Ministério Público já arquivou o assunto por considerar não ter havido uma prática criminosa que demandasse medidas de um órgão federal.

O comentário que desencadeou a discussão, consistia em fazer uma comparação entre King Kong e os jogadores de futebol, que após ficarem famosos, logo tratariam de “pegar” uma loira. Como a maioria dos jogadores brasileiros nessa condição tem o tom de pele escuro, se fez a associação de que Danilo Gentili teria chamado os negros de macaco o que, pelo comentário em si, não fica evidente, embora sugestivo. No entanto, no comentário seguinte dele no Twitter, e aqui eu transcrevo, “Alguém pode me dar 1 explicação razoável pq posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa mas nunca um negro de macaco?” dá a entender que ele realmente fez a associação entre negros e macacos. Ainda assim, eu não enquadraria Danilo Gentili como racista porque, segundo entendi das explicações que ele deu posteriormente, o humorista não faz a comparação no sentido de dizer que os negros estariam atrasados na escala evolutiva e que seriam, portanto, inferiores aos brancos. Ele apenas teria comparado a cor da pele negra à cor da pelagem comum em muitos macacos. E é justamente nesse ponto, creio eu, pelo uso da terminologia “macaco”, que o nó aperta e a comunicação falha.

Numa sociedade ideal, onde as discussões teriam a função de levar as pessoas a um entendimento comum, e não a de tentar impor aos outros seu ponto de vista preconcebido, coisa extremamente difícil de se ver nesse Brasil maniqueísta, o episódio deveria ter se dado, mais ou menos, da seguinte maneira: Gentili faz seu comentário. Pessoas se ofendem e vão tirar satisfação – Sr. Danilo, o que o senhor quis dizer nessa comparação? Por acaso você quis insinuar que os negros são intelectualmente inferiores aos brancos, que jogam bosta nas pessoas no zoológico, ou que catam piolho uns dos outros para comer?! – Por sua vez, Gentili diria – Não, claro que não, apenas comparei a cor dos macacos ao tom de pele dos negros, e a comparação parou por aí. Longe de mim querer ofender! – e os ofendidos continuariam – Ah!... Tudo bem, então. Mas saiba que você foi muito infeliz nessa comparação, pois, mesmo sem querer, você acabou colaborando para disseminação do racismo, visto que a palavra “macaco” já trás enraizada consigo uma herança cultural preconceituosa muito forte. E mesmo que você a utilize numa outra conceituação, a carga negativa por ela transmitida, mesmo que você não note, se faz sentir por aqueles que sofrem com o preconceito no dia-a-dia. Por isso pedimos para evitá-la. – Diante dessa observação, acredito que Danilo Gentili pediria desculpas, reconheceria ter se valido de uma palavra inadequada, o ponto central da confusão seria esclarecido e, conseqüentemente, nenhum humorista precisaria ser tão apedrejado na internet.

Como dito, a palavra “macaco” se mostra indevida e imprecisa para ser utilizada na comparação pretendida por Gentili, porque, além do que foi dito acima, ela abarca em seu sentido, todas as espécies de símios existentes, que por sua vez, exibem uma variação muito grande de cores na pelagem de seus indivíduos, e não só o tom negro. Então, seguindo essa lógica de raciocínio, seria preciso especificar a espécie para a comparação, símios de pêlo escuro para os negros, os de pelagem branca amarelada encardida como gibão e babuíno para os indivíduos brancos e pardos, e o orangotango para os ruivos. Pronto! Todo mundo sacaneado, em especial, os macacos! O problema agora estaria por conta dos ativistas do direito animal.

Por fim, desprezo o racismo e, particularmente, não sinto mais graça em humor que apela para as diferenças, porém, não me considero senhor das virtudes para dizer o que deve ser considerado engraçado ou não, pelas pessoas, embora eu creia que os excessos devam ser polidos. Mas temo por uma sociedade humoristicamente asséptica e radicalmente ignorante.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Breve Portfolio (balaio de trampos)

Alguns trabalhos que fiz nas últimas semanas... Sem muito saco para escrever, e lamentando por isso.

E o tolo títere se sacrificou em demasia; se desgastou, e desgostoso, não teve ânimo para aproveitar a recompensa. Tinha como titereiros Apolo e Dionísio que o dividiam; altercavam e se alternavam na manipulação do teatro que era sua vida.















Vai tudo bagunçado mesmo!