segunda-feira, 11 de maio de 2020

Fábrica de idiotas

Começou o reflexo, dia 8 de maio de 2020, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão contra o deputado Sebastião Oliveira (PL-PE) e prendeu dois funcionários do Departamento de Estradas e Rodagens (DER) na segunda fase da Operação Outline, que visa desarticular criminosos que praticavam desvios de recursos públicos da obra de requalificação da BR-101, em Pernambuco. O deputado foi responsável pela indicação do novo diretor do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), por intermédio do líder do PP, Arthur Lira (AL), após tratativa com o presidente Bolsonaro (sem partido) que busca apoio na câmara. Está aberto o balcão para negociatas com o centrão.

Ora, não era essa a velha política que Bolsonaro tanto dizia que jamais faria? Estou esperando para ver o malabarismo retórico que alguns de seus apoiadores ainda insistem em fazer para tentar justificar a politicalha presidencial. Como se precisassem, pois parece que Bolsonaro poderia sair por aí jogando bosta nas pessoas, como um chimpanzé maluco, que ainda assim, seus sequazes aloprados aplaudiriam e o apoiaria. E se esse tipo de coisa acontecesse literalmente, eu realmente não me surpreenderia.

O fascínio dos adeptos à crença da fábula bolsonarista se equivale a de qualquer outro sectário fanático, deslumbrado pela narrativa carismática de seu líder messiânico, como os seguidores de Charles Manson, e Jim Jones, por exemplo. Algo difícil de explicar e entender. Uma supressão radical do pensamento crítico, na abdicação de si, em função de uma idolatria cega a um personalismo idealizado.

Bolsonaro é nauseabundo para quem o observa e sente o mínimo de apreço pelos valores do humanismo. É uma caricatura viva e grotesca do que há de pior no submundo da política brasileira e humana. Um pateta megalômano que foi empurrado ao poder. E é intrigante observar como ele mal se preocupa em dissimular essa realidade e esconder o que ele é, um politiqueiro de segunda à frente de uma nação que deveria ser de primeira; e ele tem consciência disso e sente orgulho, como já deu a entender. E quase o despudor de dizer isso abertamente. Bolsonaro é um lixo político; e quem ainda o apoia está abaixo do lixo.

Não, não dá mais para ser polido com quem ainda sustém a figura desse sujeito. Hoje, 11 de maio de 2020. Quem até agora continua a assentir com o seu comportamento em meio a essa maldita pandemia, com seus discursos desvairados, seus desmandos vulgares e sua patente incompetência demonstrada, ou, é um completo alienado desinformado, ou um ignorante voluntário cooptado pela indústria do ódio, ou, ainda, um cúmplice oportunista que se beneficia da política do atual governo; seja como for, um bando de refugos da cidadania. Indignos de qualquer respeito intelectual. Bolsonaro não é a causa dos problemas do Brasil, é uma agravante consequência.

Bolsonaro já demonstrou ser patrimonialista, nepotista, fisiologista, clientelista, corporativista, além de oportunista, hipócrita, jactante e egocêntrico. Não são palavras vãs. Eu pensei em colocar exemplos de cada uma delas aqui, tiradas de suas falas e ações publicadas nos noticiários, mas o texto ia ficar longo demais e me dar um trabalho desgraçado (sendo que ninguém lê mesmo).

Então, prefiro propor aos interessados que pesquisem na internet cruzando palavras-chaves entre o nome do presidente e os termos citados acima, ou correspondentes, e verificar os artigos que aparecem, dando preferência aos da imprensa séria, por favor. Ou ainda, melhor até, entrem no site cagômetro; lá tem uma relação das cagadas promovidas pelo governo e publicadas na imprensa desde seu primeiro dia. Após ler cada cagada, busquem um termo ou adjetivo que melhor compreenderia o sentido da coisa lida. Pode ser um bom passatempo para esses tempos de distanciamento social.

Domingo, dia 3 de maio de 2020, um dia depois do longo depoimento de Sérgio Moro na Polícia Federal de Curitiba sobre a tentativa de ingerência presidencial naquele órgão, eu fui à padaria no final da manhã. Ainda estava em curso aquela última infâmia histórica do presidente de até então, em que ele comungava com manifestantes pró-ditadura e dizia que não haveria mais conversa e blablablá; jornalistas do Estadão sendo agredidos... enfim. Eu estava na padaria e acabei tendo o desprazer de escutar a conversa de dois sujeitos sentados ao balcão.

Eram dois coroas de meia-idade, brancos... sei lá, há um certo padrão nesse tipo gente que um dia ainda vou conseguir compreender e adjetivar com precisão. Estavam falando sobre coisas de política, de que Moro era um Cavalo de Tróia da esquerda... que o mito isso, o mito aquilo... que se ele fechasse o congresso ia ser melhor mesmo... Tive que me conter para não soltar um sonoro BOLSONARO É CORRUPTO SEUS PORRA BURRO!... rapaz, que disgraça, vu?! É um povo que tem dinheiro, certamente têm acesso à internet, mas optam deliberadamente por se manterem ignorantes. É tanto orgulho de si, que se mostram incapazes de cogitar a possibilidade de poderem ter errado na escolha política que fizeram, e nada muda isso, nem os fatos e nem a realidade. Estão tão arraigados no próprio ego, que somente a realidade de seu mundo interno lhes interessa. Até pouco tempo atrás, pelo menos, assinavam e liam a Veja; agora, parece que nem mais isso! Suas opiniões surgem da própria vontade sobre as coisas que desejam acreditar, alimentada por uma rede de semelhantes condicionadora dessa realidade particular.

Sei que é falho assumir generalidades a partir de leituras particulares e experiências pessoais, mas na vivência prática do dia-a-dia, muitas vezes é a alternativa que nos resta. A maioria dos simpatizantes mais ferrenhos e afrontosos de Bolsonaro que conheci estão acima dos quarenta anos, mais para os cinquenta e além; sempre apresentaram uma vida basicamente autocentrada, mais voltada aos seus problemas e interesses pessoais, sem maiores demonstrações de preocupação com a vida pública ou bem-estar geral da sociedade. Não que fossem más pessoas; é que a própria dinâmica social da época de juventude deles os predispunha à ideia que para ser um bom cidadão, bastava-se apenas ser um bom cumpridor das regras sociais, obediente à lei e a ordem; caridoso de acordo com a moral ou o espírito de cada um. Vi muita gente boa se convertendo em mulas de Bolsonaro nos últimos anos; entes queridos, inclusive. Foi um processo gradual e sistemático em que a imprensa teve um papel importante no começo, até ser descartada e trocada pelas redes sociais na construção e manutenção de uma narrativa maniqueísta falha, geradora dessa realidade distópica em que nos encontramos hoje, onde o totalitarismo da imbecilidade tenta impor-se na marra, defendida por uma militância de energúmenos exasperados. Claro que o processo é muito mais complexo do que isso, cheio de nuances e variantes; eu sei, eu sei...

Vejo que a internet e as redes sociais mudaram drasticamente os paradigmas da comunicação no mundo, proporcionando uma oportunidade de interação muito mais ativa na busca por informações e verificação de notícias recebidas, o que poderia vir a possibilitar formulações de opiniões muito mais ricas e conscientes. Contudo, parece que a maioria das pessoas, sobretudo as imigrantes digitais1, preferiu conservar a mesma postura que sempre mantiveram diante da TV; aceitando passivamente as notícias que recebem por internet sem se questionar; acreditando e se impressionando com todo tipo de sandice. Sem o filtro da responsabilidade social que os veículos sérios de comunicação gostam de ostentar em garantir, a comunicação pelas redes sociais vem se dando em uma terra de ninguém, repleta de gangues interesseiras. Se consistindo apenas em uma linha de montagem para se produzir idiotas.

1. Pessoas nascidas antes de 1980, em contraposição aos nativos digitais, jovens que nasceram e se desenvolveram em um ambiente imergido na assimilação da tecnologia digital.

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