segunda-feira, 18 de maio de 2020

Divagação internética



Lembro quando a internet era imensa e não apenas Google, e meia dúzia de redes sociais. Quando a grande massa se entretinha em outras paragens midiáticas. A internet ainda era uma trilha de aventura, e não era qualquer um que tinha disposição para se enveredar por ela. Era um espaço para pessoas com a mente mais arguta; de boa ou má índole, mas com um tipo de processamento cerebral mais dinâmico e proativo. Sua natureza era roots, ponto de encontro para espíritos audaciosos, desejosos por sair de suas zonas de conforto e explorar a realidade desse novo mundo virtual.

A tecnologia seguiu sua evolução natural no decorrer do tempo e se popularizou. Em determinado momento, o poder econômico resolveu desembarcar de vez na internet, visando extrair dividendos da sua massificação. Usuário se tornou produto, e suas informações pessoais, novas especiarias, commodities com alto valor no mercado. Aí, cagou-se tudo. Publicidade por todo canto, verdadeira poluição digital; textos publicitários se passando por depoimentos pessoais espontâneos; complexos algoritmos cada vez mais sofisticados, elaborados para enredar clientes e atingir públicos-alvo com maior precisão. Enfim, Entradas e Bandeiras do século XXI. Entendo, alguém precisa pagar pela conta do banquete, né?

De repente, todo mundo havia virado empreendedor de si mesmo na internet; editando-se na medida de sua preferência, em busca de se apresentar para a rede como um bom produto, digno de ser consumido. A aura idealizada da visão de mundo promovida pela publicidade ao longo das últimas décadas parece ter se infiltrado no modo de ser das pessoas, contaminando e se naturalizando na sociedade, e se estabelecendo como uma forma de expressão cultural espontânea. Assim, o narcisismo e o pedantismo foram introjetados na psiquê social como qualidades meritórias, e despontaram soberanos no vaidoso cenário das interações via redes sociais, onde cada um tenta se destacar na multidão fazendo-se parecer maior do que de fato é.

Hoje, parece que a internet encolheu. Digo, de acordo com nossos costumes. O mundo parece ter se reduzido à internet, e a internet, às redes sociais. E aos streamings também, é verdade. Às vezes, me sinto meio claustrofóbico na rede por causa disso, embora eu reconheça minha parcela de culpa nesse processo. Percebi que ao longo do tempo, fui assumindo uma postura cada vez mais acomodada diante da tela do computador, em frente à facilidade de acesso aos conteúdos de entretenimento disponíveis.

Mesmo assim, convenhamos, do Orkut ao Instagram, apesar de amplamente difundido, o fenômeno das redes sociais parece ter se empobrecido culturalmente por um lado nos últimos anos, se reduzindo a um mero painel para performances sociais com opções de feedbacks; em contraposição à todo aquele conjunto de recursos de apresentação que eram (ou é?) disponibilizados pelo Facebook, por exemplo. O que o povo quer é se exibir e se fantasiar de celebridade. Ninguém quer ficar sabendo quais foram os livros que o outro leu, não! Que coisa antiquada.

Já gostei bastante, mas as redes sociais andam me dando certa ânsia ultimamente. Tanto a vitrine de egos do Instagram, quanto a galeria de panfletagem que se tornou o Facebook. Quanto ao Twitter, parece uma mesa de bar gigante em que todo mundo fala ao mesmo tempo e que, volta e meia acaba rolando alguma briga ou confusão. Acho que o problema não está no recipiente tecnológico das redes, mas sim, em seu conteúdo. O problema da sociedade contemporânea está no anacronismo de sua mentalidade.

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