Lembro quando a internet era imensa e não apenas Google, e
meia dúzia de redes sociais. Quando a grande massa se entretinha em outras
paragens midiáticas. A internet ainda era uma trilha de aventura, e não era
qualquer um que tinha disposição para se enveredar por ela. Era um
espaço para pessoas com a mente mais arguta; de boa ou má índole, mas com um
tipo de processamento cerebral mais dinâmico e proativo. Sua natureza era
roots, ponto de encontro para espíritos audaciosos, desejosos por sair de suas
zonas de conforto e explorar a realidade desse novo mundo virtual.
A tecnologia seguiu sua evolução natural no decorrer do
tempo e se popularizou. Em determinado momento, o poder econômico resolveu
desembarcar de vez na internet, visando extrair dividendos da sua massificação.
Usuário se tornou produto, e suas informações pessoais, novas especiarias, commodities
com alto valor no mercado. Aí, cagou-se tudo. Publicidade por todo canto, verdadeira
poluição digital; textos publicitários se passando por depoimentos pessoais
espontâneos; complexos algoritmos cada vez mais sofisticados, elaborados para
enredar clientes e atingir públicos-alvo com maior precisão. Enfim, Entradas e
Bandeiras do século XXI. Entendo, alguém precisa pagar pela conta do banquete,
né?
De repente, todo mundo havia virado empreendedor de si mesmo
na internet; editando-se na medida de sua preferência, em busca de se
apresentar para a rede como um bom produto, digno de ser consumido. A aura idealizada da visão de mundo promovida pela publicidade ao longo das últimas décadas parece ter se infiltrado
no modo de ser das pessoas, contaminando e se naturalizando na sociedade, e se estabelecendo como
uma forma de expressão cultural espontânea. Assim, o narcisismo e o pedantismo
foram introjetados na psiquê social como qualidades meritórias, e despontaram soberanos no vaidoso cenário das interações via redes sociais, onde cada um tenta se destacar na multidão fazendo-se parecer maior do que de fato é.
Hoje, parece que a internet encolheu. Digo, de acordo com
nossos costumes. O mundo parece ter se reduzido à internet, e a internet, às
redes sociais. E aos streamings também, é verdade. Às vezes, me sinto meio claustrofóbico
na rede por causa disso, embora eu reconheça minha parcela de culpa nesse processo.
Percebi que ao longo do tempo, fui assumindo uma postura cada vez mais
acomodada diante da tela do computador, em frente à facilidade de acesso aos conteúdos
de entretenimento disponíveis.
Mesmo assim, convenhamos, do Orkut ao Instagram, apesar de
amplamente difundido, o fenômeno das redes sociais parece ter se empobrecido
culturalmente por um lado nos últimos anos, se reduzindo a um mero painel para performances sociais com opções de feedbacks; em contraposição à todo
aquele conjunto de recursos de apresentação que eram (ou é?) disponibilizados pelo Facebook, por exemplo. O que o povo quer é se exibir e se fantasiar de celebridade. Ninguém quer ficar sabendo quais foram os livros que o outro leu, não! Que coisa antiquada.
Já gostei bastante, mas as redes sociais andam me dando certa ânsia ultimamente. Tanto a vitrine de egos do Instagram, quanto a galeria de panfletagem que se tornou o Facebook. Quanto ao Twitter, parece uma mesa de bar gigante em que todo
mundo fala ao mesmo tempo e que, volta e meia acaba rolando alguma briga ou confusão. Acho que o problema não está no recipiente tecnológico das redes,
mas sim, em seu conteúdo. O problema da sociedade contemporânea está no anacronismo de sua mentalidade.
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