Começou o reflexo, dia 8 de maio de 2020, a Polícia Federal
cumpriu mandado de busca e apreensão contra o deputado Sebastião Oliveira
(PL-PE) e prendeu dois funcionários do Departamento de Estradas e Rodagens
(DER) na segunda fase da Operação Outline, que visa desarticular criminosos que
praticavam desvios de recursos públicos da obra de requalificação da BR-101, em
Pernambuco. O deputado foi responsável pela indicação do novo diretor do
Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), por intermédio do líder
do PP, Arthur Lira (AL), após tratativa com o presidente Bolsonaro (sem
partido) que busca apoio na câmara. Está aberto o balcão para negociatas com o
centrão.
Ora, não era essa a velha política que Bolsonaro tanto dizia
que jamais faria? Estou esperando para ver o malabarismo retórico que alguns de
seus apoiadores ainda insistem em fazer para tentar justificar a politicalha
presidencial. Como se precisassem, pois parece que Bolsonaro poderia sair por
aí jogando bosta nas pessoas, como um chimpanzé maluco, que ainda assim, seus sequazes
aloprados aplaudiriam e o apoiaria. E se esse tipo de coisa acontecesse
literalmente, eu realmente não me surpreenderia.
O fascínio dos adeptos à crença da fábula bolsonarista se equivale
a de qualquer outro sectário fanático, deslumbrado pela narrativa carismática
de seu líder messiânico, como os seguidores de Charles Manson, e Jim Jones, por
exemplo. Algo difícil de explicar e entender. Uma supressão radical do
pensamento crítico, na abdicação de si, em função de uma idolatria cega a um personalismo
idealizado.
Bolsonaro é nauseabundo para quem o observa e sente o mínimo
de apreço pelos valores do humanismo. É uma caricatura viva e grotesca do que
há de pior no submundo da política brasileira e humana. Um pateta megalômano
que foi empurrado ao poder. E é intrigante observar como ele mal se preocupa em
dissimular essa realidade e esconder o que ele é, um politiqueiro de segunda à
frente de uma nação que deveria ser de primeira; e ele tem consciência disso e
sente orgulho, como já deu a entender. E quase o despudor de dizer isso
abertamente. Bolsonaro é um lixo político; e quem ainda o apoia está abaixo do lixo.
Não, não dá mais para ser polido com quem ainda sustém a
figura desse sujeito. Hoje, 11 de maio de 2020. Quem até agora continua a
assentir com o seu comportamento em meio a essa maldita pandemia, com seus discursos
desvairados, seus desmandos vulgares e sua patente incompetência demonstrada,
ou, é um completo alienado desinformado, ou um ignorante voluntário cooptado
pela indústria do ódio, ou, ainda, um cúmplice oportunista que se beneficia da
política do atual governo; seja como for, um bando de refugos da cidadania.
Indignos de qualquer respeito intelectual. Bolsonaro não é a causa dos
problemas do Brasil, é uma agravante consequência.
Bolsonaro já demonstrou ser patrimonialista, nepotista,
fisiologista, clientelista, corporativista, além de oportunista, hipócrita,
jactante e egocêntrico. Não são palavras vãs. Eu pensei em colocar exemplos de
cada uma delas aqui, tiradas de suas falas e ações publicadas nos noticiários,
mas o texto ia ficar longo demais e me dar um trabalho desgraçado (sendo que
ninguém lê mesmo).
Então, prefiro propor aos interessados que pesquisem na
internet cruzando palavras-chaves entre o nome do presidente e os termos citados
acima, ou correspondentes, e verificar os artigos que aparecem, dando
preferência aos da imprensa séria, por favor. Ou ainda, melhor até, entrem no
site cagômetro; lá tem uma relação das cagadas promovidas pelo governo e
publicadas na imprensa desde seu primeiro dia. Após ler cada cagada, busquem um
termo ou adjetivo que melhor compreenderia o sentido da coisa lida. Pode ser um
bom passatempo para esses tempos de distanciamento social.
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Domingo, dia 3 de maio de 2020, um dia depois do longo
depoimento de Sérgio Moro na Polícia Federal de Curitiba sobre a tentativa de
ingerência presidencial naquele órgão, eu fui à padaria no final da manhã. Ainda
estava em curso aquela última infâmia histórica do presidente de até então, em
que ele comungava com manifestantes pró-ditadura e dizia que não haveria mais
conversa e blablablá; jornalistas do Estadão sendo agredidos... enfim. Eu
estava na padaria e acabei tendo o desprazer de escutar a conversa de dois
sujeitos sentados ao balcão.
Eram dois coroas de meia-idade, brancos... sei lá, há um
certo padrão nesse tipo gente que um dia ainda vou conseguir compreender e
adjetivar com precisão. Estavam falando sobre coisas de política, de que Moro
era um Cavalo de Tróia da esquerda... que o mito isso, o mito aquilo... que se
ele fechasse o congresso ia ser melhor mesmo... Tive que me conter para não
soltar um sonoro BOLSONARO É CORRUPTO SEUS PORRA BURRO!... rapaz, que disgraça,
vu?! É um povo que tem dinheiro, certamente têm acesso à internet, mas optam
deliberadamente por se manterem ignorantes. É tanto orgulho de si, que se
mostram incapazes de cogitar a possibilidade de poderem ter errado na escolha
política que fizeram, e nada muda isso, nem os fatos e nem a realidade. Estão
tão arraigados no próprio ego, que somente a realidade de seu mundo interno
lhes interessa. Até pouco tempo atrás, pelo menos, assinavam e liam a Veja;
agora, parece que nem mais isso! Suas opiniões surgem da própria vontade
sobre as coisas que desejam acreditar, alimentada por uma rede de semelhantes
condicionadora dessa realidade particular.
Sei que é falho assumir generalidades a partir de leituras
particulares e experiências pessoais, mas na vivência prática do dia-a-dia,
muitas vezes é a alternativa que nos resta. A maioria dos simpatizantes mais ferrenhos
e afrontosos de Bolsonaro que conheci estão acima dos quarenta anos, mais para
os cinquenta e além; sempre apresentaram uma vida basicamente autocentrada,
mais voltada aos seus problemas e interesses pessoais, sem maiores
demonstrações de preocupação com a vida pública ou bem-estar geral da
sociedade. Não que fossem más pessoas; é que a própria dinâmica social da época
de juventude deles os predispunha à ideia que para ser um bom cidadão,
bastava-se apenas ser um bom cumpridor das regras sociais, obediente à lei e a
ordem; caridoso de acordo com a moral ou o espírito de cada um. Vi muita gente
boa se convertendo em mulas de Bolsonaro nos últimos anos; entes queridos, inclusive.
Foi um processo gradual e sistemático em que a imprensa teve um papel
importante no começo, até ser descartada e trocada pelas redes sociais na
construção e manutenção de uma narrativa maniqueísta falha, geradora dessa
realidade distópica em que nos encontramos hoje, onde o totalitarismo da
imbecilidade tenta impor-se na marra, defendida por uma militância de energúmenos
exasperados. Claro que o processo é muito mais complexo do que isso, cheio de
nuances e variantes; eu sei, eu sei...
Vejo que a internet e as redes sociais mudaram drasticamente
os paradigmas da comunicação no mundo, proporcionando uma oportunidade de interação muito mais ativa na busca por informações e verificação de notícias
recebidas, o que poderia vir a possibilitar formulações de opiniões muito mais ricas e
conscientes. Contudo, parece que a maioria das pessoas, sobretudo as imigrantes
digitais1, preferiu conservar a mesma postura que sempre mantiveram
diante da TV; aceitando passivamente as notícias que recebem por internet sem se questionar; acreditando e se impressionando com todo tipo de sandice. Sem o
filtro da responsabilidade social que os veículos sérios de comunicação gostam
de ostentar em garantir, a comunicação pelas redes sociais vem se dando em uma terra
de ninguém, repleta de gangues interesseiras. Se consistindo apenas em uma linha de montagem para se produzir idiotas.
1. Pessoas nascidas antes de 1980, em contraposição aos
nativos digitais, jovens que nasceram e se desenvolveram em um ambiente
imergido na assimilação da tecnologia digital.