terça-feira, 15 de setembro de 2020

Bolsossaurus praeses

 


Argumentam em defesa de Bolsonaro que ele não é tão burro quanto aparenta porque se fosse não teria conseguido sobreviver tanto tempo na política. Dizem que ele é um animal político muito inteligente. Assim sendo, se instinto de sobrevivência e boa adaptação ao meio são sinais de inteligência, devemos então considerar o crocodilo como um dos animais mais inteligente do planeta, já que existe desde a era dos dinossauros.

Bolsossauro, lagarto de bolso, nome atribuído por sua característica marcante de querer encher os próprios bolsos mamando nas tetas do estado. Faz parte de uma espécie de répteis mamíferos que se desenvolvem muito bem no Brasil. E que, infelizmente, parecem estar longe do risco de extinção.

Agora, a criatura vem mentindo despudoradamente, enaltecendo suas medidas adotadas para o enfrentamento da pandemia, que, de fato, se resume apenas a ele ficar gritando histericamente contra todas as medidas adotadas para o enfrentamento da pandemia. Além de desdenhar dos mortos e menosprezar os dados científicos.

Galhofa de satanás! Um antipresidente, à frente de um antigoverno, apoiado por uma súcia de anticidadãos. Tá bom... O Brasil fez por merecer.

O fecaloide absolutista

 

 

Era uma vez, um antipresidente que se achava rei. Era insidioso, histriônico e inepto para o cargo que exercia. Fanfarrão, porém covarde, vivia cercado por uma claque de asseclas aloprados, apoiadores incondicionais de qualquer abjeção produzida por ele; uma corte fiel de idólatras agressivos. O sujeito era um golem moldado do barro excretado pelo deus Mamon, emergido do rebosteio político que havia tomado conta de seu país.

A vil criatura galgou ao poder surfando uma série de ondas de oportunismo e proselitismo demagógico, fomentado em pactos com diversas entidades sociais de viés reacionário. Foi dizendo coisas que cada grupelho desses queria ouvir, em ressonância aos seus rancores mais profundos, com promessas de ordem, moral e liberalismo patronal.

Captou o apoio dos neovendilhões do templo, dos milicos e suas miliquetes, da plutocracia rupestre empresarial do país, do ogronegócio, e de grande parte de uma classe medíocre, encantada com seus rompantes ufanistas de moralismo e patriotismo. Com isso, aliado ainda às ações de suas legiões de trolls virtuais e reais, disseminadores de mentiras e detratores de oposicionistas, ele enfim conseguiu chegar ao poder. Passando a impulsionar o país para frente; em direção ao precipício.

Megalômano; politizou a saúde durante uma severa pandemia em nome de sua própria personalidade. Atiçou sua corja contra a racionalidade e a favor de suas narrativas imaginadas. Investiu contra a institucionalidade com bravatas torpes e só amansou quando viu gente sua sendo presa por corrupção. Ele era uma fraude completa; atuando de modo diametral ao lema estampado na bandeira de seu país, instigando desordens e retrocessos.

Enquanto isso, a esmaecida efígie da Mariana bruxuleia no horizonte, aturdida. Ou não.

Fim.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Alguns tentames

1. A ignorância assassina

Se Lula glamorizava a ignorância, Bolsonaro agora a enaltece como filosofia de vida. Elevou seu status e elencou sua prática como prioridade na política de seu governo. A ignorância está quase adquirindo um caráter institucional. Não seria surpresa se algum governista aloprado resolvesse estabelecer um ministério só para ela. Ministério da Ignorância; para facilitar a administração de sua prática à frente dos outros ministérios.

Vimos ao logo dos últimos anos a ignorância crescer e se expandir gradualmente no seio social, no âmbito das esferas públicas e privadas; se aglutinando na egolatria alheia e engolindo a tudo pelo seu caminho, a ética, a prudência, a moral republicana, o respeito às instituições democráticas e à própria democracia, o apreço aos valores humanistas, a inteligência crítica e outros valores mais. Como a entidade amorfa do filme A Bolha Assassina, de 1988, a ignorância se tornou um monstrengo disforme no topo das instituições brasileiras, agitando seus tentáculos proselitistas sobre sociedade, buscando aumentar sua esfera de atuação na fagocitose de outros organismos constitucionais.

A Ignorância Assassina; seria o título do filme baseado na política do atual governo, cujas medidas e ações parecem ter saído do mais pobre roteiro de filme trash disponível. Se bem que “A Bolha Assassina” também descreve com precisão a “bolsoesfera”; bolha social que a súcia bolsonarista alimenta nas redes sociais.


2. Os Lambotas

Os Lambotas são figuras da cultura brasileira, quase folclóricas. Sentem fetiche por autoridades fardadas, e gostam de lustrar bota de milico com a língua. Adoram se fantasiar de macho alfa, e de se imaginarem como protagonistas de um filme de ação brucutu. Fanfarrões, costumam bravatear contra minorias na pregação de moralismos autoritários, porém, diante da corrupção policial e de militares desonestos, se calam e se acovardam. Vivem de acordo com uma realidade imaginada, autoimposta, vendo a si mesmos como personagens de um grande videogame chamado vida.


3. Tostão furado brasileiro

Lula e Bolsonaro são duas faces de uma mesma moeda, com duas caretas e nenhuma coroa. Personificam dois arquétipos do ideário identitário do ser brasileiro; o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda, movido pelo coração e não pela razão, tanto nas amizades quanto inimizades, e que mistura o público com o privado em uma coisa só.

Politicamente falando, aos olhos públicos, Lula sempre figurou a efígie do malandrão simpático e boa-praça do povo brasileiro. Estereótipo do sujeito bem articulado, conciliador e bom negociador, que consegue as coisas com lábia e astúcia. Já Bolsonaro incorpora outro arquétipo, o do brasileiro turrão, mal-educado e mesquinho, que cisca pelo terreiro catando facilidades e oportunismos. Rancoroso e dado à insídia, fanfarrão e antipático. Ambos, egocêntricos e personalistas a sua maneira. Legítimos avatares da Lei de Gérson, na busca por querer levar vantagem em tudo.

Por isso que parcelas significativas da sociedade se identificam tanto com eles, porque a imagem deles simbolizam constructos sociais que reverberam aspectos comuns do etos brasileiro, presentes no imaginário popular.

Precisamos urgentemente identificar e valorizar outro arquétipo do que nós somos.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Divagação internética



Lembro quando a internet era imensa e não apenas Google, e meia dúzia de redes sociais. Quando a grande massa se entretinha em outras paragens midiáticas. A internet ainda era uma trilha de aventura, e não era qualquer um que tinha disposição para se enveredar por ela. Era um espaço para pessoas com a mente mais arguta; de boa ou má índole, mas com um tipo de processamento cerebral mais dinâmico e proativo. Sua natureza era roots, ponto de encontro para espíritos audaciosos, desejosos por sair de suas zonas de conforto e explorar a realidade desse novo mundo virtual.

A tecnologia seguiu sua evolução natural no decorrer do tempo e se popularizou. Em determinado momento, o poder econômico resolveu desembarcar de vez na internet, visando extrair dividendos da sua massificação. Usuário se tornou produto, e suas informações pessoais, novas especiarias, commodities com alto valor no mercado. Aí, cagou-se tudo. Publicidade por todo canto, verdadeira poluição digital; textos publicitários se passando por depoimentos pessoais espontâneos; complexos algoritmos cada vez mais sofisticados, elaborados para enredar clientes e atingir públicos-alvo com maior precisão. Enfim, Entradas e Bandeiras do século XXI. Entendo, alguém precisa pagar pela conta do banquete, né?

De repente, todo mundo havia virado empreendedor de si mesmo na internet; editando-se na medida de sua preferência, em busca de se apresentar para a rede como um bom produto, digno de ser consumido. A aura idealizada da visão de mundo promovida pela publicidade ao longo das últimas décadas parece ter se infiltrado no modo de ser das pessoas, contaminando e se naturalizando na sociedade, e se estabelecendo como uma forma de expressão cultural espontânea. Assim, o narcisismo e o pedantismo foram introjetados na psiquê social como qualidades meritórias, e despontaram soberanos no vaidoso cenário das interações via redes sociais, onde cada um tenta se destacar na multidão fazendo-se parecer maior do que de fato é.

Hoje, parece que a internet encolheu. Digo, de acordo com nossos costumes. O mundo parece ter se reduzido à internet, e a internet, às redes sociais. E aos streamings também, é verdade. Às vezes, me sinto meio claustrofóbico na rede por causa disso, embora eu reconheça minha parcela de culpa nesse processo. Percebi que ao longo do tempo, fui assumindo uma postura cada vez mais acomodada diante da tela do computador, em frente à facilidade de acesso aos conteúdos de entretenimento disponíveis.

Mesmo assim, convenhamos, do Orkut ao Instagram, apesar de amplamente difundido, o fenômeno das redes sociais parece ter se empobrecido culturalmente por um lado nos últimos anos, se reduzindo a um mero painel para performances sociais com opções de feedbacks; em contraposição à todo aquele conjunto de recursos de apresentação que eram (ou é?) disponibilizados pelo Facebook, por exemplo. O que o povo quer é se exibir e se fantasiar de celebridade. Ninguém quer ficar sabendo quais foram os livros que o outro leu, não! Que coisa antiquada.

Já gostei bastante, mas as redes sociais andam me dando certa ânsia ultimamente. Tanto a vitrine de egos do Instagram, quanto a galeria de panfletagem que se tornou o Facebook. Quanto ao Twitter, parece uma mesa de bar gigante em que todo mundo fala ao mesmo tempo e que, volta e meia acaba rolando alguma briga ou confusão. Acho que o problema não está no recipiente tecnológico das redes, mas sim, em seu conteúdo. O problema da sociedade contemporânea está no anacronismo de sua mentalidade.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Fábrica de idiotas

Começou o reflexo, dia 8 de maio de 2020, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão contra o deputado Sebastião Oliveira (PL-PE) e prendeu dois funcionários do Departamento de Estradas e Rodagens (DER) na segunda fase da Operação Outline, que visa desarticular criminosos que praticavam desvios de recursos públicos da obra de requalificação da BR-101, em Pernambuco. O deputado foi responsável pela indicação do novo diretor do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), por intermédio do líder do PP, Arthur Lira (AL), após tratativa com o presidente Bolsonaro (sem partido) que busca apoio na câmara. Está aberto o balcão para negociatas com o centrão.

Ora, não era essa a velha política que Bolsonaro tanto dizia que jamais faria? Estou esperando para ver o malabarismo retórico que alguns de seus apoiadores ainda insistem em fazer para tentar justificar a politicalha presidencial. Como se precisassem, pois parece que Bolsonaro poderia sair por aí jogando bosta nas pessoas, como um chimpanzé maluco, que ainda assim, seus sequazes aloprados aplaudiriam e o apoiaria. E se esse tipo de coisa acontecesse literalmente, eu realmente não me surpreenderia.

O fascínio dos adeptos à crença da fábula bolsonarista se equivale a de qualquer outro sectário fanático, deslumbrado pela narrativa carismática de seu líder messiânico, como os seguidores de Charles Manson, e Jim Jones, por exemplo. Algo difícil de explicar e entender. Uma supressão radical do pensamento crítico, na abdicação de si, em função de uma idolatria cega a um personalismo idealizado.

Bolsonaro é nauseabundo para quem o observa e sente o mínimo de apreço pelos valores do humanismo. É uma caricatura viva e grotesca do que há de pior no submundo da política brasileira e humana. Um pateta megalômano que foi empurrado ao poder. E é intrigante observar como ele mal se preocupa em dissimular essa realidade e esconder o que ele é, um politiqueiro de segunda à frente de uma nação que deveria ser de primeira; e ele tem consciência disso e sente orgulho, como já deu a entender. E quase o despudor de dizer isso abertamente. Bolsonaro é um lixo político; e quem ainda o apoia está abaixo do lixo.

Não, não dá mais para ser polido com quem ainda sustém a figura desse sujeito. Hoje, 11 de maio de 2020. Quem até agora continua a assentir com o seu comportamento em meio a essa maldita pandemia, com seus discursos desvairados, seus desmandos vulgares e sua patente incompetência demonstrada, ou, é um completo alienado desinformado, ou um ignorante voluntário cooptado pela indústria do ódio, ou, ainda, um cúmplice oportunista que se beneficia da política do atual governo; seja como for, um bando de refugos da cidadania. Indignos de qualquer respeito intelectual. Bolsonaro não é a causa dos problemas do Brasil, é uma agravante consequência.

Bolsonaro já demonstrou ser patrimonialista, nepotista, fisiologista, clientelista, corporativista, além de oportunista, hipócrita, jactante e egocêntrico. Não são palavras vãs. Eu pensei em colocar exemplos de cada uma delas aqui, tiradas de suas falas e ações publicadas nos noticiários, mas o texto ia ficar longo demais e me dar um trabalho desgraçado (sendo que ninguém lê mesmo).

Então, prefiro propor aos interessados que pesquisem na internet cruzando palavras-chaves entre o nome do presidente e os termos citados acima, ou correspondentes, e verificar os artigos que aparecem, dando preferência aos da imprensa séria, por favor. Ou ainda, melhor até, entrem no site cagômetro; lá tem uma relação das cagadas promovidas pelo governo e publicadas na imprensa desde seu primeiro dia. Após ler cada cagada, busquem um termo ou adjetivo que melhor compreenderia o sentido da coisa lida. Pode ser um bom passatempo para esses tempos de distanciamento social.

Domingo, dia 3 de maio de 2020, um dia depois do longo depoimento de Sérgio Moro na Polícia Federal de Curitiba sobre a tentativa de ingerência presidencial naquele órgão, eu fui à padaria no final da manhã. Ainda estava em curso aquela última infâmia histórica do presidente de até então, em que ele comungava com manifestantes pró-ditadura e dizia que não haveria mais conversa e blablablá; jornalistas do Estadão sendo agredidos... enfim. Eu estava na padaria e acabei tendo o desprazer de escutar a conversa de dois sujeitos sentados ao balcão.

Eram dois coroas de meia-idade, brancos... sei lá, há um certo padrão nesse tipo gente que um dia ainda vou conseguir compreender e adjetivar com precisão. Estavam falando sobre coisas de política, de que Moro era um Cavalo de Tróia da esquerda... que o mito isso, o mito aquilo... que se ele fechasse o congresso ia ser melhor mesmo... Tive que me conter para não soltar um sonoro BOLSONARO É CORRUPTO SEUS PORRA BURRO!... rapaz, que disgraça, vu?! É um povo que tem dinheiro, certamente têm acesso à internet, mas optam deliberadamente por se manterem ignorantes. É tanto orgulho de si, que se mostram incapazes de cogitar a possibilidade de poderem ter errado na escolha política que fizeram, e nada muda isso, nem os fatos e nem a realidade. Estão tão arraigados no próprio ego, que somente a realidade de seu mundo interno lhes interessa. Até pouco tempo atrás, pelo menos, assinavam e liam a Veja; agora, parece que nem mais isso! Suas opiniões surgem da própria vontade sobre as coisas que desejam acreditar, alimentada por uma rede de semelhantes condicionadora dessa realidade particular.

Sei que é falho assumir generalidades a partir de leituras particulares e experiências pessoais, mas na vivência prática do dia-a-dia, muitas vezes é a alternativa que nos resta. A maioria dos simpatizantes mais ferrenhos e afrontosos de Bolsonaro que conheci estão acima dos quarenta anos, mais para os cinquenta e além; sempre apresentaram uma vida basicamente autocentrada, mais voltada aos seus problemas e interesses pessoais, sem maiores demonstrações de preocupação com a vida pública ou bem-estar geral da sociedade. Não que fossem más pessoas; é que a própria dinâmica social da época de juventude deles os predispunha à ideia que para ser um bom cidadão, bastava-se apenas ser um bom cumpridor das regras sociais, obediente à lei e a ordem; caridoso de acordo com a moral ou o espírito de cada um. Vi muita gente boa se convertendo em mulas de Bolsonaro nos últimos anos; entes queridos, inclusive. Foi um processo gradual e sistemático em que a imprensa teve um papel importante no começo, até ser descartada e trocada pelas redes sociais na construção e manutenção de uma narrativa maniqueísta falha, geradora dessa realidade distópica em que nos encontramos hoje, onde o totalitarismo da imbecilidade tenta impor-se na marra, defendida por uma militância de energúmenos exasperados. Claro que o processo é muito mais complexo do que isso, cheio de nuances e variantes; eu sei, eu sei...

Vejo que a internet e as redes sociais mudaram drasticamente os paradigmas da comunicação no mundo, proporcionando uma oportunidade de interação muito mais ativa na busca por informações e verificação de notícias recebidas, o que poderia vir a possibilitar formulações de opiniões muito mais ricas e conscientes. Contudo, parece que a maioria das pessoas, sobretudo as imigrantes digitais1, preferiu conservar a mesma postura que sempre mantiveram diante da TV; aceitando passivamente as notícias que recebem por internet sem se questionar; acreditando e se impressionando com todo tipo de sandice. Sem o filtro da responsabilidade social que os veículos sérios de comunicação gostam de ostentar em garantir, a comunicação pelas redes sociais vem se dando em uma terra de ninguém, repleta de gangues interesseiras. Se consistindo apenas em uma linha de montagem para se produzir idiotas.

1. Pessoas nascidas antes de 1980, em contraposição aos nativos digitais, jovens que nasceram e se desenvolveram em um ambiente imergido na assimilação da tecnologia digital.