Quando comecei a escrever este blog anos atrás o mundo era
outro. Não havia essa profusão de chorume transbordando nas redes
sociais; tampouco, as chorumelas da rede tinham a capacidade de me
impactar de forma significativa na vida real. Porém, algo mudou e passei a
perceber que uma simples lida no feed de notícias do facebook tem o poder de
azedar minha tarde. Se houvesse um plebiscito a respeito, eu votaria pelo fim
do facebook no Brasil. Pronto! Cabô! Pelo fim dessa patifaria toda aí!
Ok, ok... Radicalismo não tem nada a ver. O facebook não tem
culpa pela profusão de merda por ele disseminada, embora os algoritmos tenham lá sua parcela de culpa sim, mas, enfim, tal como uma arma, ou
qualquer outra ferramenta, ele está apenas a serviço de quem o usa. Blablablá é
verdade. O facebook é apenas um espelho turvo da sociedade, que reflete muitos
de seus cidadãos sem polidez.
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Em regiões onde o respeito pelo estado de direito é mínimo e
a incidência da violência é alta e banalizada, pessoas que buscam se resguardar
tendem a ser mais moderadas no tratamento uma com as outras, pois qualquer
palavra fora do tom ou olhar mal interpretado pode servir de estopim para a
deflagração de atos de hostilidades e agressões. O medo de tomar porrada ou
levar meia dúzia de tiro na cara faz as pessoas serem mais educadas com as
outras.
O facebook ameniza esse risco, e é justamente por causa
dessa sensação de segurança que a bolha virtual nos proporciona que muita gente
se sente à vontade para se agigantar de forma monstruosa na frente do
computador, esbravejando, xingando e ofendendo quem quer que seja, de maneira
que jamais teriam coragem de fazer presencialmente. O facebook serve de púlpito
para os covardes e patifes.
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O pior é que a ignorância é tanta, que muita gente profere
os mais abjetos comentários e nem sequer se dão conta de sua abjeção. Não
enxergam como tal. O narcisismo egoico é tanto, que, para essas pessoas, o que
pensam, falam ou sentem será sempre o certo e verdadeiro, sendo seu direito
expressá-lo como bem entender. Não questionam a legitimidade ou conveniência de
suas declarações; se acreditam, logo, só pode ser verdade. Veem suas falhas de caráter
como traços de sua personalidade, linda e maravilhosa; e quem discorda, sinto
muito, só pode ser um pobre coitado idiota. O senso crítico nas redes sociais é
que nem o ar na estratosfera, bastante rarefeito.
Eles não percebem os imbecis que são. São cognitivamente
imaturos, não aprenderam a desenvolver plenamente o pensamento abstrato e o
raciocínio-hipotético-dedutivo em meio ou após a adolescência. Estacionaram em
algum estágio emocional juvenil e lá permaneceram.
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Às vezes, a sensação que tenho é a de que o mundo foi tomado
por esses seres. Seres que diante da dificuldade de lidar com as complexas
variáveis de um mundo pluricultural, se apegam às suas verdades binárias e
maniqueístas, e partem para atacar os espantalhos que os assombram, sendo esses
espantalhos, qualquer coisa da qual eles não tenham afinidade. E esses seres
surgem tanto da direita, quanto da esquerda.
Muitas coisas mudaram na dinâmica social brasileira nos
últimos anos, embora a essência permaneça exatamente a mesma. Nada, de fato, surpreendente, pelo contrário, extremamente previsível para não dizer
preditivo! Ainda assim, complexo e conturbado. O nível de esculhambação no país
é tão absurdo que o Brasil virou uma caricatura de si mesmo.
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