É simples. Se o mundo fosse um lugar bom, justo e
igualitário, eu também seria conservador, pois iria querer conservá-lo assim,
bom, justo e igualitário. Porém, o mundo não é. O mundo é ruim, injusto e intolerante,
e isso me incomoda. Logo, quem se esforça para conservar o mundo assim, só pode
ser condescendente com ele e contemporizar com tal situação. Geralmente quem
o faz, o faz por se encontrar numa posição segura e privilegiada dentro do
sistema, estando confortável em seu padrão de vida, ao qual não quer perder ou ver
mudar. Dessa maneira, age mais preocupado com o seu próprio bem-estar do que
com o bem-estar geral da sociedade. Segue princípios egoístas e menospreza os
degradados pelo sistema, portanto, não pode ser considerada uma boa pessoa da
qual se valha a pena ouvir a opinião, pois seu discurso sempre será pensado para
si, e não para os outros.
Existe um princípio de falácia que percebo ser recorrente em textos de pseudointelectuais e gurus de araque das redes sociais,
que consiste em misturar a lógica semântica com a lógica de pensamento. Sofismas, em que se jogando com palavras, levam os textos e o pensamento do autor a
parecerem mais contundentes do que de fato são. Ojerizo isso, mas o texto
acima é um exemplo.
As palavras e a língua seguem a uma lógica própria, muitas
vezes confusa, que não, necessariamente, obedecem à lógica do pensamento racional
cartesiano. Uma palavra pode abarcar amplos sentidos em seu significado, o que
pode gerar ambiguidade no entendimento entre os interlocutores. Qualidade muito
apreciada pelos poetas, mas que deve ser dirimida no debate filosófico.
Quando relaciono a palavra “conservador” com a simples ideia de se
conservar, no caso, este mundo purulento cheio de problemas no qual vivemos, estou fazendo um arranjo com as palavras (não totalmente injustificado) em que reduzo toda uma gama de
pensamentos e individualidades num único balaio generalizante, e taxo a tudo
como algo vil e desprezível que deve ser repudiado. O que não é verdade, pois nessa gama conceitual existem
muitas pessoas de boa índole, inteligentes e ponderadas, que desejam o bem do próximo e o progresso geral da humanidade, embora no chafurdar das
redes sociais, os imbecis acéfalos, ressentidos e odientos acabem se sobressaindo no conjunto.
Aliás, como também acontece no conglomerado de gente da dita esquerda, que acabam
sendo reduzidas no mesmo balaio pelos picaretas da direita.
Esse reducionismo binário da complexa problemática da
sociedade contemporânea, nas sábias palavras do mestre Bodedharma, é uma merda
do caralho.
✦
O termo conservador com conotações políticas surgiu na
França no começo do século XIX, por conta do movimento de restauração dos
valores sociais que haviam sido depredados pela Revolução Francesa. Desde então o termo engloba
pensamentos diversos, com características específicas de seu dado momento
histórico e regional, mas, em suma, consiste no esforço político de muitos indivíduos pela
manutenção da configuração social vigente, na qual eles estejam convenientemente assentados e
bem acomodados. Se, por exemplo, os interesses dos conservadores do passado tivessem
prevalecido, a escravidão no Brasil nunca teria sido abolida. Afinal,
“se está bom para mim, que não sou escravo, para que mudar, né?”.
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Agora, um fato histórico: quando o primeiro homem resolveu
limpar a bunda depois de cagar, os conservadores de então entraram em polvorosa. “O
quê?! Como assim?! Que absurdo! Um homem de bem passando a mão na própria
bunda?!”. Ainda bem que o progresso prevalece.
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