Charlezinho não era uma má pessoa. Era um bom menino, um
tanto mimado, embora nada além do que era natural em seu meio social, de classe
média alta. Estudou em boas escolas particulares, sempre tratou bem os
empregados da família, nunca ligou muito para questões de política. Como a maioria dos
jovens de sua idade, estava mais preocupado com suas pontuações nos jogos onlines e em ser notado pelos seus
pares, em especial, pelas garotas de sua rede de contatos.
Em 2013 algo havia mudado, de repente era cool ter e expressar opiniões políticas
nas redes sociais. Ele não tinha muitas, mas percebeu que bastava falar mal de
políticos e criticar a corrupção do PT. Ele estava na onda. Ele participou de
uma manifestação contra o aumento de 20 centavos nas tarifas dos transportes
públicos. Ele não pegava ônibus, mas não era apenas pelos 20 centavos. Ia ter
muita gente bacana lá e ele podia conhecer alguém legal. Foi com dois amigos.
Em dado momento, um dos amigos pisou de mau jeito no meio fio da calçada,
machucou o pé, nada grave, mas eles resolveram que era melhor voltar para casa, de táxi.
Em 2014, exaltação! Ia votar pela primeira vez e ostentava com
orgulho o número de seu candidato, “contra tudo que está aí!” Gritava
empolgado. E xingava muito no Twitter
e no facebook. Bloqueou muita gente
que antes ele achava ser do bem, mas que agora se alinhavam com as forças do
mal. E ele não entendia o porquê dessas pessoas não enxergarem a verdade como ele finalmente enxergava. O mal era o PT e esse partido precisava ser erradicado da
face da Terra!
Seu candidato perdeu a eleição e ele se revoltou; não se
conformou. Não estava acostumado a ser contrariado. Ele não podia aceitar que
uma presidente anta como aquela, eleita por uma maioria burra, destruísse seu
amado país. Gritava feito louco nas redes sociais e acompanhava a opinião de todos
os colunistas que sabiam a verdade, e diziam aquilo que ele queria ouvir. A
ideia agora era defender o impeachment da “presidanta” a todo custo, para
salvar o Brasil da corrupção e não pagar o pato.
Veio o impeachment... Vieram as gravações da Lava-Jato.
Político é tudo igual, não tenho culpa. Eu sou um cidadão do bem. Hoje, procura
espantalhos nas redes sociais para temer e atacar. Mede a sociedade usando sua
vida como parâmetro de medida. Se sua vida é tão boa, por que todo mundo não
age e se comporta como ele? Talvez uma ditadura do bem faça todo mundo andar na
linha e deixem as coisas em ordem, afinal, se todo mundo for certinho, tudo
fica certinho, né?
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